
Crítica:
Dentro do gênero “comédias populares brasileiras”, não há dúvida de que TOC seja uma tentativa. Não apenas por não se ancorar nos chavões e clichês que são o praxe da nossa filmografia, mas por efetivamente tentar surgir com uma cara própria, não muito interessada em conceder ao “grande público” o que, na teoria, estamos acostumados a achar que ele se interessa (nesse caso, o filme não apenas foge das clássicas piadas de minoria que proliferam no país mas também de elementos tradicionais como construção e identificação com personagem, voltagem emocional sedutora, final redentor etc. etc. etc.).
Nesse sentido, o filme se constrói como uma espécie de metralhadora de estilos e referências – de piadas metalinguistas a Mad Max, Irmãos Farrelly a Bojack Horseman, MTV anos 90 a Adult Swim, piadas de escatologia a reflexões sobre existência humana maiakovskianas -, o que faz bastante sentido, considerando que é o primeiro longa dos dois diretores (e primeiro veículo de estrelato para Tatá) e nada melhor para um primeiro longa do que jogar logo tudo que você aprendeu e imaginou nos anos de labuta antes de conseguir realizá-lo.
Não é à toa que o resultado final fique um pouco irregular e sem ritmo (ainda que repleto de boas piadas), que o filme demore a emplacar e que mesmo considerando que todos os atores estão bons, é bem diferente ver o Furlan (sempre gênio) com seu estilo naturalista habitual e um Bruno Gagliasso vivendo uma caricatura de ator global. O curioso, aqui, é perceber que algumas das melhores partes do filme – a passagem de tempo com Ouro de Tolo e a cena romântica no karaokê, por exemplo – são as que efetivamente aproximam-se da identificação emocional com o espectador e com uma construção mais “clássica” da história, e que em alguma medida o filme é louco para se afastar daquilo que ele consegue ser mais eficiente. TOC, enfim, é por um lado uma espécie de possível saída para a tão criticada grande comédia nacional (o que não sei se será possível, dado o público que qualquer uma dessas tentativas vem alcançando), mas fico aqui pensando quanto o filme poderia ser mais rico se, em vez de tentar distanciar-se desse padrão, abraçasse o gênero de corpo, alma e coração, para ficar no Claudinho e Buchecha que abrilhanta o karaokê.